Carlos Teixeira reflete em sua produção sobre os vazios e os espaços que não se inserem nos usos urbanos. Em O outro, o mesmo, ele propõe um labirinto móvel, adequável, reconfigurável e sujeito às necessidades das performances que ali se realizarão. As estruturas do terreiro são “cacos-carros”, feitos de papelão prensado sobre rodas, negociáveis e não-hierárquicos, que se apresentarão como uma espécie de jogo entre performance e espaço, entre protagonista e público. Nessa entrevista, Teixeira fala sobre suas referências, sobre o entrelaçamento deste projeto com outras obras suas, as transformações de vazios e suas expectativas em relação às mudanças que serão equacionadas em O outro, o mesmo.
“O outro, o mesmo” é título de um poema de Jorge Luis Borges. Você apontaria alguma referência originada deste universo para a criação do terreiro?
Carlos Teixeira: Acho francamente que cheguei ao desenho de maneira intuitiva e sem uma referência mais clara. Reli “O Outro” (em O Livro de Areia) e “Borges e eu” (em O Fazedor), de Jorge Luis Borges, mas fazer qualquer ligação entre esses textos e o terreiro seria uma coisa meio forçada. Esses dois textos falam sobre a relação entre um Borges autor e um Borges leitor (Borges e eu), e um Borges jovem e um Borges velho (O Outro). Num terreiro, “o outro” e “o mesmo” tendem a se igualar; as diferenças entre os dois passam a ser cada vez menos precisas. É essa relação compreensiva e reconciliadora com “o outro” que ele denuncia; a ausência de um conflito com “o outro” sendo resultado de uma lógica excessivamente humanista, racional e moderna – uma ausência associada a uma suicida ausência de anticorpos (que só seriam provocados pelo conflito com o Outro). Mas esse “outro” como uma “estratégia fatal”, de Baudrillard, não tem muito ver com “o outro” desse terreiro, já que ele mesmo associa a capacidade de absorção da cultura brasileira (que, segundo ele, devora a cultura branca) à educação, aos rituais, ao irracional. “O outro” e “o mesmo”, então, estariam relacionados e misturados pela voracidade e pela violência; não pela antropologia ou por meio de dispositivos legais.
Buscando uma referência um pouco mais prática: o espaço para ficção e performance que projetei para a exposição no Victoria & Albert Museum tem semelhanças com o terreiro, porque ambos foram imaginados como espaços para eventos e espetáculos, e ambos procuram convidar os artistas das artes cênicas a usá-los como um ponto de partida para um novo trabalho.
No caso do terreiro, acho que a forma disforme dos “carros-cacos” (ou qualquer outro nome) remete à idéia de um pátio informal e miscigenado. Quando definida uma arena em planta, o desenho dos carros parece primitivo e antropomórfico. E embora só exista na abstração de um desenho e não no espaço, essa figura confirma a idéia de terreiro.
Carlos Teixeira: Acho francamente que cheguei ao desenho de maneira intuitiva e sem uma referência mais clara. Reli “O Outro” (em O Livro de Areia) e “Borges e eu” (em O Fazedor), de Jorge Luis Borges, mas fazer qualquer ligação entre esses textos e o terreiro seria uma coisa meio forçada. Esses dois textos falam sobre a relação entre um Borges autor e um Borges leitor (Borges e eu), e um Borges jovem e um Borges velho (O Outro). Num terreiro, “o outro” e “o mesmo” tendem a se igualar; as diferenças entre os dois passam a ser cada vez menos precisas. É essa relação compreensiva e reconciliadora com “o outro” que ele denuncia; a ausência de um conflito com “o outro” sendo resultado de uma lógica excessivamente humanista, racional e moderna – uma ausência associada a uma suicida ausência de anticorpos (que só seriam provocados pelo conflito com o Outro). Mas esse “outro” como uma “estratégia fatal”, de Baudrillard, não tem muito ver com “o outro” desse terreiro, já que ele mesmo associa a capacidade de absorção da cultura brasileira (que, segundo ele, devora a cultura branca) à educação, aos rituais, ao irracional. “O outro” e “o mesmo”, então, estariam relacionados e misturados pela voracidade e pela violência; não pela antropologia ou por meio de dispositivos legais.
Buscando uma referência um pouco mais prática: o espaço para ficção e performance que projetei para a exposição no Victoria & Albert Museum tem semelhanças com o terreiro, porque ambos foram imaginados como espaços para eventos e espetáculos, e ambos procuram convidar os artistas das artes cênicas a usá-los como um ponto de partida para um novo trabalho.
No caso do terreiro, acho que a forma disforme dos “carros-cacos” (ou qualquer outro nome) remete à idéia de um pátio informal e miscigenado. Quando definida uma arena em planta, o desenho dos carros parece primitivo e antropomórfico. E embora só exista na abstração de um desenho e não no espaço, essa figura confirma a idéia de terreiro.
Qual a importância das imagens de Belo Horizonte que você inseriu na primeira apresentação de seu projeto para o terreiro O outro, o mesmo?CT: Aquelas imagens me fizeram pensar sobre a relação entre as “áreas de estar” (os casulos) e o espaço amebóide. Quando dispostos em arena, os casulos podem ser vistos como o local externo à arena. Porém, as pessoas abrigadas nos casulos poderiam também assistir aos espetáculos, se eu desenhasse algumas aberturas nas paredes curvas que definem a arena. Mas depois achei melhor manter a integridade das paredes e deixá-las sem essas janelas. A foto usada no projeto para o terreiro mostra um prédio de apartamentos (à esquerda da foto) que fica nos fundos das palafitas do projeto “Amnésias Topográficas”, cujas varandas foram usadas como “camarotes” para assistir à peça “Nômades”. Para mim, foi surpreendente essa aproximação entre a vida privada dos vizinhos e o espetáculo das palafitas, daí essa analogia entre os casulos e a arena.
Em que medida seus projetos e pesquisas, que lidam com o espaço urbano - sobretudo a intervenção “Amnésias Topográficas” no bairro do Buritis em Belo Horizonte - informam sobre sua resposta para pensar em uma obra artística que é também um espaço e atende a um programa arquitetônico?
CT: Acho que o programa, muito mais que o espaço, pode ser visto como o que descola a arquitetura das outras artes, mesmo que esse descolamento seja uma coisa bem pouco precisa. Talvez seja isso o que me permita ver a âncora da arquitetura como uma coisa mais leve e que me possibilita trabalhar com mais liberdade entre os limites das artes cênicas, artes plásticas e arquitetura.
CT: Acho que o programa, muito mais que o espaço, pode ser visto como o que descola a arquitetura das outras artes, mesmo que esse descolamento seja uma coisa bem pouco precisa. Talvez seja isso o que me permita ver a âncora da arquitetura como uma coisa mais leve e que me possibilita trabalhar com mais liberdade entre os limites das artes cênicas, artes plásticas e arquitetura.
A mobilidade das partes que compõem o terreiro lhe parece uma forma de compartilhar a configuração espacial do espaço que projetou?
CT: Sim. Existe uma disposição que podemos chamar de formal, como a arena amebóide; mas ela é apenas uma entre inúmeras outras possibilidades de arranjo das partes.
CT: Sim. Existe uma disposição que podemos chamar de formal, como a arena amebóide; mas ela é apenas uma entre inúmeras outras possibilidades de arranjo das partes.
Tendo em vista que o terreiro será utilizado para performances, danças e teatro, você acredita que essas atividades poderiam reestruturar o espaço sem alterar a disposição do terreiro? Ou você acha que a composição proposta pode ser condicionante para as ocupações que ali acontecem?CT: O outro, o mesmo pode ser inicialmente entendido como um terreiro que define um vazio para eventos. Mas ele também é uma dúzia de estilhaços que nada lembram a arena; são “cacos-carros” como fragmentos de uma forma perdida, de uma organização que é apenas uma entre outras organizações possíveis e imprevisíveis. Então o ponto de partida do projeto é um espaço que condicione o evento, mas esse espaço pode também ser destruído e re-imaginado a critério dos diretores e coreógrafos ou dos próprios visitantes da Bienal.
Quais as suas expectativas quanto às qualidades específicas do espaço interior de seu terreiro em relação ao espaço expositivo da 29a Bienal?
CT: Espero que o terreiro seja muito usado, muito modificado, muito movimentado e que ele traduza esse uso, essas mudanças e esses movimentos no final da exposição.
CT: Espero que o terreiro seja muito usado, muito modificado, muito movimentado e que ele traduza esse uso, essas mudanças e esses movimentos no final da exposição.
Fonte:http://www.29bienal.org.br/FBSP/pt/29Bienal/29Bienal/Paginas/default.aspx
Agência Eagle
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